por Jiddu Saldanha
Uma luz geral semi-opaca com algumas áreas delimitadas no chão do teatro, dando até a impressão de acaso, duas cadeiras e um aparelho de som, somado das interpretações dos atores, bastou, para jogar o público num ambiente de claustrofobia e angústia sufocada. O esquete “A Cantora Antropomórfica” foi um trabalho que ousou pela qualidade de sua pesquisa e profundidade desafiadora do texto.
O desapego do grupo em chegar no festival com uma peça capaz de impressionar e levar prêmio, foi recompensada por uma justa classificação para a final, onde, sem dúvida, o quesito em questão era o experimentalismo da linguagem e, neste sentido, podemos dizer que o elenco sustentou com garra a proposta.
Joana esteve mais forte na primeira apresentação, já na segunda, Rafael, conseguiu, talvez vencer a angústia do ator para mergulhar na essência da personagem e, portanto, da arte de atuar, e nós sabemos, tratar-se de um ator sensível, criativo e capaz.
Ao final de tudo, concluímos que um dos pontos fortíssimos deste espetáculo foi a paridade do elenco. Num trabalho desses não se pode ter um ator bom e outro mais ou menos. Neste caso, os dois precisam render muito, é necessário que o jogo se estabeleça e que o combate comece logo para que o público possa fazer sua escolha. Ou entra dentro da estrutura proposta ou permanece à margem da “viagem” do diretor.
Aqui, podemos dizer que “viajamos” numa história onde os fragmentos de memória reconstruía uma personagem - seria a “Cantora”? - dentro de nós.
A decisão do diretor em propor um trabalho onde elementos caros ao teatro ficariam de fora, tais como, iluminação esmerada, maquiagem e figurinos rebuscados, deram ao trabalho uma outra qualidade, fazendo-nos focar principalmente na “maneira” de contar essa história.
Para mim, “A Cantora Antropomórfica”, ganha por experimentar, ousar. Provoco o grupo, no entanto a seguir pesquisando e mergulhar em ensaios que possam leva-los à transcendência. Experimentar requer a quebra de paradigmas, navegar por áreas desconfortáveis mas, a repetição, o treino, o ensaio constante, pode revelar cada vez mais, o sabor de um novo caminho.
Que vença o inconformismo!
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